Nossa História

A NOSSA HISTÓRIA: Professor Fernandino Júnior

29/04/24 - 08:00

Por Amauri da Matta

Visitando a “Crônica do Dia”, escrita pelo saudoso Dr. José Costa, advogado e Promotor de Justiça, apresentada por Wilson Tanure, em 12-05-1949, às 11h30, na Rádio Cultura, deparei-me com a bela homenagem feita ao maestro, pintor e professor Fernandino Júnior, no aniversário de seu falecimento (1º-05-1948). Por sua importância histórica, reproduzo a crônica: “Há homens que, por sua passagem neste mundo, conquistam, pelo seu valor, tantas e tamanhas glórias, que seus nomes ficam gravados eternamente no relicário dos tempos, constituindo, para as gerações, dignificantes exemplos de trabalho, de inteligência, de esforço e de amor às coisas belas da vida. E isso o fazem através de sacrifícios, de lutas insanas, de estudos, de dias e dias dedicados ao progresso cultural de sua gente, de horas e horas oferecidas ao ilustramento de seus conterrâneos. Em Sete Lagoas, temos dezenas de nomes que podem ser catalogados, como verdadeiros símbolos do trabalho, do caráter, homens que deixaram atrás de si um rastro luminoso, que nada neste mundo conseguirá apagar. E, dentre eles, senhores, lembremos o nome de Fernandino Júnior, verdadeira glória de nossa terra! Artista incomparável, mestre inigualável, o grande pintor, músico e professor patrício, é lembrado por todos os que tiveram a ventura de conhecê-lo, quer pelo convívio mais íntimo, quer através de seus trabalhos, sempre com saudades, com respeito, com gratidão. Foi um gênio, o velho e saudoso Fernandino Júnior. 

Como pintor, sua arte alcançou lugar jamais atingido por outro mineiro. Seus quadros, de uma beleza impressionante, baseados quase todos em nossa natureza, figuram em diversas exposições e embelezam e ornamentam salões de arte por este Brasil afora. Com o seu talento, com o seu golpe de vista magistral, transportou para o óleo visões sertanejas que se confundem com a própria natureza que serviu de modelo. Conquistou, depois de concorrer com os maiores luminares da arte brasileira, um prêmio de viagem à Itália, que na sua modéstia gigante de artista, recusou. Foi esta a sua maior glória, que ele jamais vangloriou. O prêmio ganho fora um merecimento, fora um coroamento tão justo de seu trabalho, que nada de anormal simbolizou, tamanha a sua glória. 

Como músico, organizou, há anos, quando mal Sete Lagoas marchava para ponto progressista que hoje alcançou, uma corporação musical que foi, em tempos que lá atrás ficaram, o orgulho e glória do velho mestre. A maioria de seus componentes eram membros de sua tradicional família, da qual foi um dos mais lídimos representantes. E com que entusiasmo, com que emoção, com segurança rítmica, regia o Professor Fernandino Júnior sua banda, encantando os ouvidos daqueles que, ainda hoje, se lembram, com saudades, estilizado que foi premiado o velho maestro, conquistou fama através do Brasil. Sua melodia era entoada por todos, numa consagração muito justa. Como professor, moldou caracteres, orientando-os para a luta da vida. Hoje, depois que faleceu, seu nome, entretanto, é lembrado com mais vigor, com mais saudades e com mais reconhecimento de qualquer outro, tantos foram os benefícios prestados à cultura sete-lagoana. À sua memória, Prof. Fernandino Júnior, eu lhe dedico, comovido, esta crônica de hoje.” Fernandino Júnior, um dos grandes benfeitores de Sete Lagoas, dentre outras atividades: a) diplomou-se na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, homenageado com medalha de mérito, entregue pelo Imperador Dom Pedro II e agraciado com uma viagem à Europa (22-12-1888); b) fundou o primeiro jornal da cidade: “O Sete-Lagoano” (12-10-1894); c) criou a pioneira banda de música: “Irmãos Fernandino” (07-1897); d) compôs os hinos do Democrata FC, do Grupo de Escoteiros “Plácido de Castro” e o da Escola Profissional “Frederico Álvares”, esse último aprovado pela Divisão de Ensino da E.F Central do Brasil e adotado em todas as outras escolas profissionais congêneres; e) musicou para o piano o hino do Ginásio Municipal Dom Silvério, letra do poeta Agripa Vasconcelos; f) foi homenageado pelo Prefeito Afrânio de Avellar Marques Ferreira, em sua segunda gestão (1977/1982), com a construção de um novo coreto na Praça Tiradentes, que levou o nome do saudoso maestro. Fernandino Júnior escreveu, sem dúvida alguma, um belo capítulo de nossa história.

 

Amauri da Matta

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