Nossa História

Mistérios ...

“Um sonho me pegou, era sobrenatural, falava da nossa história, da vida no meu arraial.

02/03/24 - 08:00

Por Amauri da Matta

Da força que temos, desbravando caminhos, para chegar ao destino. Das nossas conquistas, da nossa cultura, das belas canções. Eia, Eia, Eia ... Os benfeitores na terra! Das nossas paixões, de um só sentimento, guardados no tempo, por gerações. Cuidam da gente, da nossa cidade, fazer o bem, é a nossa identidade! Eia, Eia ... Os benfeitores na terra! Da arte, do belo, desse mistério! Eia, Eia ... Os benfeitores na terra! (MISTÉRIOS, Amauri da Matta, fevereiro de 2024). Essa poesia-canção surgiu da grande emoção que tive ao ler a obra “O Mistério da Terra de Clara Nunes”, escrita por Adriana Andrade, Edna Pires e Jones Silva. São Paulo: Editora Madras, 2018. O livro traz um sonho e com ele a história de Caetanópolis. Como tudo surgiu... Da saga dos Irmãos Mascarenhas – Antônio Cândido, Bernardo e Caetano –, que iriam construir a fábrica de tecidos em Juiz de Fora, mas decidiram trazê-la para o sertão mineiro, no pacato Arraial do Cedro. Coisas do destino! Para o leitor ter uma ideia, a estrada de ferro, partindo do Rio de Janeiro, da Central do Brasil, só chegava até Juiz de Fora. De lá para cá, o transporte do maquinário, adquirido nos Estados Unidos para a montagem da empresa, foi realizado em 200 carros de bois, tocados por 300 homens, numa viagem interminável. A equipe de frente ia desbravando o caminho, cortando a mata virgem com foices e facões, fazendo as picadas por onde a caravana deveria passar. Uma verdadeira saga! A viagem foi longa e só concluída no início de 1872!   

Os autores falam das conquistas da cidade, com a inauguração da fábrica do Cedro (12-08-1872), e as obras de seus benfeitores. Mostram a sua cultura, o modo de ser da sua gente e os locais mágicos que forjaram a sua identidade: a fábrica de tecidos e o museu: antigo convento, onde as tecelãs residiam e onde eram educadas; a velha praça: capela de Santo Antônio, cruzeiro, coreto, palco e banco de pedra; o Clube Literário e Recreativo do Cedro, que virou cinema: atual Casa da Cultura Clara Nunes; o campo de futebol do Cedro Esporte Clube; a praça nova: Igreja Matriz de Santo Antônio e o Bar Redondo; o açude do Cedro; a pinguela da Maria Augusta; os campinhos de terra, no meio do eucalipal; a toca da onça; a banca de revistas; a pensão de Dona Camélia; a Casa e a Creche Clara Nunes; o Memorial Clara Nunes. Vivências guardadas no tempo e transmitidas por gerações. Os filhos da terra e suas realizações também são lembrados: Adriana Andrade, historiadora; Alexandre, o inventor; Amigos da Viola; Antonino Pinto Mascarenhas, gerente da fábrica de tecidos; Antônio Joaquim Barbosa Mascarenhas, Prefeito; Carlos Magno, artesão; Cirleia Mascarenhas, cabelereira; Clara Nunes, a Guerreira;  Congado; Evaldo Luiz, Prefeito; Folia de Reis; Igor Corrêa, chefe de cozinha; Guilherme Mascarenhas Dale, médico; Leandro Ruas, músico; Leo Moura, saxofonista; Mané Serrador (pai de Clara Nunes), violeiro; Mara Dorfi, artesã; Marilene Araújo, coordenadora de cultura; Mercês Maria Moreira, escritora; Pastorinhas; Patrícia Amorim, cantora; Raphael Rocha, escritor; Roberta Campos, cantora; Robson Bernardino, dançarino; Romário Vicente, Prefeito; Sônia Gomes, artesã; Walter Catarino, músico; Zé Bedeu, maestro da Banda Euterpe de Santa Luzia, e sucessores; Zé Júlio Pão, músico; Zé Marimbondo, da folia de reis. Ainda mencionados os tipos populares do Cedro, descritos por Marcos Aurélio, o “Cuta”: Abel Belito; Álvaro do Beijo; Aristóteles; o Tote; Arquimedes, o “Quimedes”; Caximbinho; Geraldo Porco Russo; Minguinho; Sócrates Drummond; Tiel; Tunica e Zé Doce. 

Enfim, o livro fala de um mago, que, com a sua energia, soube transmitir ao povo de Caetanópolis as virtudes para se viver bem: cuidar para que as suas ações sejam a expressão do bem e alcancem o próximo e a cidade. E que a arte seja bela, para que fique na memória do povo, como referência de sua identidade, e possa ser preservada, como símbolo de sua cultura! Parabéns a todos os benfeitores desta terra abençoada!

Amauri da Matta

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