Nossa História

A NOSSA HISTÓRIA: Maria Fumaça!

11/03/23 - 09:00

Por Amauri da Matta

Apresentou-lhes “a Maria Fumaça mais antiga em operação no Brasil” (foto), ligando São João Del Rei a Tiradentes e atraindo “turistas do mundo inteiro. São oferecidos passeios com grandes atrações turísticas e culturais, como o Museu Ferroviário e a Rotunda - uma estrutura ferroviária circular para manutenção e armazenamento desses tipos de veículos. Essa é uma forma de preservar a memória e o patrimônio histórico da ferrovia”. Um passeio memorável por apenas R$ 70,00 (ida) e R$ 80,00 (ida e volta), a inteira; R$ 35,00 (ida) e R$ 40,00 (ida e volta), a meia; meia-entrada, válida para crianças de 6 a 12 anos, com a apresentação da certidão de nascimento; estudantes, portando a documentação de escolaridade e a identidade (com foto); pessoas acima de 60 anos, apresentando o documento de identidade (com foto); para crianças de 0 a 5 anos, a entrada é gratuita, com a apresentação de certidão de nascimento. A venda de passagens pode ser feita por meio das bilheterias, nas estações de ambas as cidades e pela “Internet” (in https://www.vli-logistica.com.br/trem turístico, 07-03-2023). 
Quem já esteve em São João Del Rei ou Tiradentes e fez esse passeio sabe  bem avaliar a emoção de “voltar” anos e percorrer, numa Maria Fumaça, os quilômetros que separam as duas cidades. Entretanto, isso poderia ser em Sete Lagoas, como nos conta o saudoso ferroviário e historiador FRANCISCO TIMÓTEO PEREIRA, na sua ENTRE-LINHAS FERROVIÁRIAS, pois essa locomotiva a vapor foi restaurada e posta em movimento pelas mãos de João Assunção e Orlando Ferrari, ilustres sete-lagoanos formados na conceituada Escola Profissional “Frederico Álvares”, aqui inaugurada em 1939, sob o comando do engenheiro Olyntho Sátiro Alvim. São suas as palavras: “Registro que não pode ser omitido é o que lembra o extraordinário trabalho de recuperação realizado em determinada locomotiva, que vive ainda hoje o seu apogeu, pois a serviço do turismo em solo mineiro: a 1424. Esse magnífico engenho mecânico, da categoria das vaporosas, havia muito estava no cemitério das “Maria-Fumaça”, em Horto Florestal (Belo Horizonte). Ocorre que alguém, imbuído do verdadeiro espírito ferroviário, teve a louvável e feliz ideia de aproveitar a outrora gloriosa locomotiva para rebocar o romântico trenzinho que viria trafegar, inicialmente entre Mariana e Ouro Preto, depois entre São João Del Rei e Tiradentes, onde se encontra. Ali o trecho havia sido desativado, pela sanha dos iconoclastas, algum “gênio” desses que vêm conseguindo a involução deste país. Foi quando um órgão intitulado Multipor, de Juiz de Fora, convocou a sapiência do “expert” em locomotivas a vapor, João Assunção, que se fez acompanhar de outro entendedor do assunto – Orlando Ferrari –, ambos de Sete Lagoas, coadjuvados por elementos vindos de São Paulo, fazendo ressuscitar a 1424. E ela, rejuvenescida, elegante, fogosa, reluzente, paradoxalmente dócil, lá está a puxar três vagões com arcabouço de madeira revestida de lona (modelos primitivos), num resfolegar encantador, para deleite dos milhares de turistas que vão às históricas cidades montanhesas. Necessita dizer mais, do quão aptos estavam os ferroviários, capazes de levantar dos escombros o que a administração conseguia condenar à sucata? Outras locomotivas, do sistema diesel-elétrico, certamente não teriam sido tragadas pela ferrugem e teriam voltado ao tráfego, para arrastarem a produção sobre os trilhos, convertendo sua dinâmica em cifras, a favor da Empresa. Bastaria apenas alguém com pendor ferroviário no controle das ações administrativas da consolidada Ferrovia de tantas tradições. Em resumo: em Sete Lagoas, homens sensatos e demais competentes, como se demonstra, ficavam à mercê de superiores vaidosos, dotados de nenhum senso do que é conjugar o verbo administrar – enfunados atrás de luxuosas escrivaninhas, em gabinetes sofisticados ... bem afastados da realidade! (Obra citada, pág. 74. Sete Lagoas: Edições Instante, 1997). Relembrando o fato de que a Estação do Distrito de Silva Xavier foi tombada pelo poder público municipal, em 19-04-2012 (Decreto nº 4.479/2012), não seria demais sonhar com a possibilidade de uma parceria público-privada ser efetivada, para que uma locomotiva pudesse fazer o percurso desse distrito ao centro da cidade e, assim, reeditar a experiência de São João Del Rei e Tiradentes. Com isso, a velha estação seria reformada e a comunidade local beneficiada. 

Amauri da Matta

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