Saúde Neurológica

Poda neuronal x Transtorno do Espectro Autista (TEA)

29/09/23 - 12:00

Por Dra. Soraia Moura Goulart

Poda neuronal ou poda sináptica é um processo fisiológico, geneticamente programado, que ocorre no cérebro de todo indivíduo. Consiste em um processo de "limpar" conexões sinápticas que não estão sendo utilizadas. Através deste processo que as conexões cerebrais úteis são refinadas, permitindo que o cérebro funcione com mais eficiência e se adapte melhor ao ambiente. Ocorre durante toda a vida, inicia no período
intrautero, porém se torna mais intensa e importante na primeira infância e na adolescência.
Sem a poda, o cérebro fica com menos espaço, menos eficiente para aprender e assimilar informações complexas.

PODA NEURONAL DA PRIMEIRA INFÂNCIA

Inicia por volta de 12/15 meses até 36 meses de idade. No TEA a poda neuronal acontece de forma ineficiente/irregular gerando excesso de conexões, desorganizadas/hiperexcitadas e fracas que podem também levar a perdas de habilidades já adquiridas.
De acordo com as pesquisas vigentes, para formar conexões fortes em crianças com Transtorno do Espectro Autista devemos tentar ensinar a criança com experiências repletas de emoções prazerosas e que tenham significado para ela, e devemos também usar de rotina e repetição, pois o cérebro do autista apresenta uma maior rigidez cognitiva. A perda de habilidades anteriormente adquiridas pode ocorrer nesta fase, pois alguns aprendizados adquiridos podem não ter sido formados por uma conexão forte, desta forma o cérebro da criança com autismo, desfaz desta conexão.O Autismo Regressivo que acontece em aproximadamente 1/3 dos casos
de TEA até o momento nos parece ter relação intima com período da poda sináptica da infância. São crianças que apresentavam desenvolvimento motor, da linguagem, cognitivo, social e emocional aparentes típicos ou muito próximos ao desenvolvimento típico, mas por volta de 1 ano e 3 meses a 3 anos começam a perder habilidades anteriormente adquiridas.
A infância, portanto, é um período em que devemos estar atentos e intensificar as intervenções/ terapias para maior recuperação das habilidade perdidas, a fim de que possamos estimular e fortalecer novas conexões cerebrais para melhor desenvolvimento neuropsicomotor das crianças.

PODA NEURONAL DA ADOLESCÊNCIA

Após a poda da primeira infância, ocorre superprodução de neurônios e das suas conexões. Acredita-se que esse crescimento é intenso até aproximadamente 11 anos para meninas e 12 anos e 6 meses para os meninos. Após isso uma nova “limpeza” mais intensa inicia afim de que haja um refinamento das sinapses e consequentemente o cérebro se especialize mais. Nos pacientes com TEA a poda está relacionada a questões como impulsividade, agitação, dificuldade em relação ao autogerenciamento, maior rigidez comportamental e engajamento em comportamentos interferentes/disruptivos.

É importante ressaltar que novamente as experiências e intervenções especializadas, repetitivas, intensivas e motivadoras são capazes de modelar as conexões cerebrais, possibilitando maior organização em todas as áreas e afetando positivamente o desenvolvimento cerebral. É essencial que as pessoas do convívio acreditem no potencial desses adolescentes, e que possam ser trabalhadas constantemente estratégias para que eles atinjam o máximo de ganhos e conquistem cada vez mais independência e qualidade de vida.

Dra. Soraia Moura Goulart

Membro da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil
Preceptora de Neuropediatria da Residência
Médica de Pediatria do Hospital Mun. de Contagem
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